O UOL Esporte encontrou Marilia Coutinho em uma tarde de treinamento numa academia na Zona Oeste de São Paulo, na fase final de preparação da atleta para uma série de eventos nos Estados Unidos nas próximas semanas. Com uma das mãos machucada, em decorrência de um acidente de treino, a atleta lapidava sua técnica distante dos 175 kg que a fez recordista mundial absoluto [entre todas as idades] no agachamento, entre todas as federações existentes no powerlifting.
Marília fala sem constrangimento sobre sua batalha pessoal contra a desordem bipolar, em experiência que trabalha para transformar em livro. Em 2005, ainda sem encontrar um modelo de vida que lhe servisse, a então acadêmica ph.D em Biologia teve sorte de sobreviver a uma tentativa de suicídio. No ano seguinte, descobriu o levantamento de peso ao entrar numa academia do bairro pobre de Paraisópolis, em São Paulo, numa guinada que adiante a colocaria em posição de comando sobre a doença [conhecida pelas variações bruscas de humor].
"Nada cura esse tipo de doença. Seria uma mentira se falasse isso para as pessoas", diz Marilia, em menção ao livro que está preparando sobre a influência do esporte em casos do gênero, de título "Força contra a morte".
"[A doença] tem elementos de estresse pós-trauma, tem elementos de epilepsia, ninguém tem um diagnóstico fechado. O que se sabe é que o que eu tenho é muito grave. Pode ser que seja uma forma de desordem bipolar, mas é um pouco mais grave do que as formas conhecidas. Não tem cura, tem controle. Mais do que isso, tem a possibilidade de ser feliz", acrescenta.
Na infância, Marília Coutinho chegou a se dedicar à esgrima, com conquista de títulos juvenis, em momento que descreve como um dos únicos em que encontrou paz.
Em seguida, na adolescência, a paulista se engajou em movimentos de esquerda contra a ditadura vigente no país e chegou a sofrer violência de companheiros. Os incidentes, em sua interpretação, geraram um estado de alienação corporal que contribuíram para o quadro de bipolaridade.

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