Marilia Coutinho carrega sobre as barras que sustenta muito mais que a
carga que a tornou recordista mundial no powerlifting, uma vertente
não-olímpica do levantamento de peso. A brasileira encontrou no esporte
um caminho para dominar uma grave desordem bipolar que ameaçou sua vida.
De quebra, aos 49 anos, conseguiu um status de atleta de ponta que
desafia qualquer teoria sobre atividade física no amadurecimento,
competindo de igual para igual com adversárias mais novas.
O UOL Esporte encontrou Marilia Coutinho em uma tarde
de treinamento numa academia na Zona Oeste de São Paulo, na fase final
de preparação da atleta para uma série de eventos nos Estados Unidos nas
próximas semanas. Com uma das mãos machucada, em decorrência de um
acidente de treino, a atleta lapidava sua técnica distante dos 175 kg
que a fez recordista mundial absoluto [entre todas as idades] no agachamento, entre todas as federações existentes no powerlifting.
Marília fala sem constrangimento sobre sua batalha pessoal contra a
desordem bipolar, em experiência que trabalha para transformar em livro.
Em 2005, ainda sem encontrar um modelo de vida que lhe servisse, a
então acadêmica ph.D em Biologia teve sorte de sobreviver a uma
tentativa de suicídio. No ano seguinte, descobriu o levantamento de peso
ao entrar numa academia do bairro pobre de Paraisópolis, em São Paulo,
numa guinada que adiante a colocaria em posição de comando sobre a
doença [conhecida pelas variações bruscas de humor].
"Nada cura esse tipo de doença. Seria uma mentira se falasse isso para
as pessoas", diz Marilia, em menção ao livro que está preparando sobre a
influência do esporte em casos do gênero, de título "Força contra a
morte".
"[A doença] tem elementos de estresse pós-trauma, tem elementos de
epilepsia, ninguém tem um diagnóstico fechado. O que se sabe é que o que
eu tenho é muito grave. Pode ser que seja uma forma de desordem
bipolar, mas é um pouco mais grave do que as formas conhecidas. Não tem
cura, tem controle. Mais do que isso, tem a possibilidade de ser feliz",
acrescenta.
Na infância, Marília Coutinho chegou a se dedicar à esgrima, com
conquista de títulos juvenis, em momento que descreve como um dos únicos
em que encontrou paz.
Em seguida, na adolescência, a paulista se engajou em movimentos de
esquerda contra a ditadura vigente no país e chegou a sofrer violência
de companheiros. Os incidentes, em sua interpretação, geraram um estado
de alienação corporal que contribuíram para o quadro de bipolaridade.
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